Depois da tentativa de linchamento de um professor, o diretor da Escola Estadual Padre Palmeira, em Mussurunga, Flávio Oliveira, decidiu dispensar os alunos do turno vespertino na sexta porque considerou que o clima na escola continuava tenso.
"Acredito que vivemos uma profunda crise social e de valores. A instituição escola está desvalorizada e já não oferece perspectivas. As comunidades estão carentes de modelos positivos e a marginalidades está muito próxima dos nossos jovens", disse.
O capitão da Polícia Militar da Bahia, Marcelo Pitta, chefe da assessoria de Comunicação da corporação, disse que os casos de violência desta semana "servem de alerta". "Não podemos desconsiderar uma morte dentro de sala de aula. É um precedente perigoso", afirmou, antes da ocorrência de sexta-feira.
Para Hortência Pinheiro, integrante da União da Juventude Socialista (UJS) e diretora da Associação Baiana de Estudantes Secundaristas (Abes), no entanto, os casos de violência nas escolas públicas no Estado não são casos isolados, sobretudo nos bairros pobres. "O espaço escolar reflete a situação da sociedade, e o mundo fora dela está cada vez mais violento. A mente dos nossos jovens está adoecendo, muito em função das drogas, e isso tem implicações diretas na vida escolar, gerando violência", afirma.
Para ela, começam a chegar às escolas baianas casos antes comuns apenas no eixo Rio-São Paulo, como rivalidade entre gangues, motivada na maioria das vezes pela drogas. "Parece-me que está tudo sem comando. O grande desafio das autoridades, a meu ver, é a reconstrução dos valores", opina.
Maria da Glória Midlej, coordenadora do Serviço de Acompanhamento da Secretaria de Educação do Estado, informou que, na próxima segunda-feira encaminhará um grupo técnico ao Colégio Padre Palmeira. Além de ouvir professores e alunos, a equipe vai estimular a maior integração entre pais e escola e o desenvolvimento de um projeto de revitalização da unidade.
"Vamos tentar tirar desta situação ruim o estímulo para uma mudança mais profunda na relação dos estudantes com seu colégio. Também vamos estimular a organização estudantil, com a criação de um grêmio e a eleição de conselheiros para o colegiado", disse a educadora.
A visita da equipe, que vai durar entre 15 e 30 dias, servirá para coletar dados visando à elaboração de um diagnóstico da situação no colégio.
Programa Ronda Escolar
Em março, o programa Ronda Escolar da PM da Bahia recebeu 15 carros e dez motos. Inicialmente colocada em prática nas escolas localizadas em Salvador e região metropolitana, ainda nesse semestre o projeto deverá chegar a 12 cidades baianas com mais de 100 mil habitantes.
Segundo a PM, os 219 soldados mobilizados para a atividade fizeram o curso de proteção escolar, com duração de 120 horas. No curso, eles estudaram módulos de sociologia, antropologia, do Estatuto da Criança e do Adolescente e psicologia infantil.
Uma outra fase do projeto prevê a instalação de vigilância eletrônica em todas as 1.681 escolas do Estado.